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DIÁLOGOS DOS MALUNGOS SOBRE A PALAVRA CAPOEIRA...

Cabe saber que nem sempre a prática da capoeira teve o nome de capoeira.. Já foi chamada de batuque, pernada carioca, brinquedo dos angolas etc. A palavra capoeira vem de três matrizes: mato ralo, cesto de guardar capões (galo castrado) e cesto de guardar galinhas para venda. Em todos os casos, a matriz indígena caá (mato) se faz presente.. Isso gerou confusões que perduram até os dias de hoje. Há duas interpretações clássicas, e errôneas, sobre o termo. A primeira interpreta que, por ser uma palavra de matriz indígena, a capoeira teria sua origem no Brasil indígena. A segunda, em seu sentido de mato ralo, sugere que a capoeira teria nascida nas senzalas (espaços coletivos de habitação escrava, em meio rural) e que recebeu o nome devido o "escravo", em fuga, se defender com golpes de luta em um campo aberto (capoeira: mato ralo). Não existe, contudo, nenhuma evidência histórica que fundamente tais perspectivas. A documentação histórica, pelo contrário, nos informa que antigamente o nome da prática era capoeiragem e a ação do praticante, capoeira. Hoje a situação é diferente. A prática passou a ser conhecida por capoeira e o praticante como capoeirista ou angoleiro. Quem nomeou a prática como capoeira?! Poderias perguntar.. A polícia, a imprensa e os juízes batizaram a prática de matriz africana como capoeira.. Porque?! Porque eram os chamados "escravos de ganho", urbanos e não rurais, que foram flagrados jogando/lutando aquela prática diferente. E porque capoeira? Porque esses escravos transitavam "livres" nas ruas enquanto comercializavam.. Entre seus produtos estavam galos, galinhas e capões.. Guardados e transportados e um cesto de paneiro conhecido por.. Capoeira.. O Estado brasileiro deveria reconhecer oficialmente seus crimes contra as culturas de matriz africana. A capoeira, e seus praticantes, deveriam ser ressarcidos frente aos danos causados pelo racismo e pela criminalização promovida pelas elites brancas escravocratas e pelos governos estaduais e federal. Mais informações: LEAL, L. A. P. A Política da Capoeiragem - A História Social da Capoeira e do Boi - Bumbá no Pará Republicano ( 1888 - 1906 ). EDUFBA: Salvador, 2008. SOARES, C.E. L. A negragada instituição: os capoeiras no Rio de Janeiro (1808-1890). Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1994. MESTRE BEL E TREINEL LEAL, Brinquedo dos Angolas, 2009, Belém.

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