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A PÁTRIA DO CAPOEIRAS - O Malungo no "Sete de setembro"


Na última segunda-feira ocorreu no Brasil inteiro mais uma comemoração do "Sete de setembro", referente ao dia da Pátria, que comumente é marcado por desfile de militares e exibições da força bélica brasileira. Além dos desfiles, pouco se reflete, na imprensa, sobre os significados de cidadania, justiça e identidade entre os próprios brasileiros. Conforme os moldes consagrados pelos militares da primeira República, a pátria se confunde com as forças armadas. Contudo, quem disse que o discurso midiático conservador é partilhado por todo mundo? Além do importante movimento intitulado "Grito dos excluídos", que se manifesta para relembrar as injustiças na sociedade brasileira, outros grupos populares também se manifestaram através da vivência de seu modo próprio de comemoração. Nesse caso, destacamos aqui a nossa comunidade "capoeiral" do Norte do Brasil.
Já é tradição em Belém do Pará que diversas rodas de capoeira sejam constituidas no dia "Sete de setembro". Nesta segunda-feira, havia cerca de 7 rodas ocorrendo ao mesmo tempo. O Malungo, que já esteve presente em anos anteriores, foi convidado a participar da roda organizada pelos mestres Laíca e Silvério. Estiveram presentes Augusto Leal e Douglas. A brincadeira foi bonita e na ocasião foi possivel encontrar velhos camaradas como os mestres Bezerra e Fernando Banjo, de Macapá. Foi anunciado o lançamento do livro CAPOEIRA, IDENTIDADE E GÊNERO, em Belém e Cametá. Inclusive havendo a primeira aquisição de um exemplar por parte do professor Faquinha, que acompanha os estudos sobre a capoeira no Brasil e já participou dos vários lançamentos d'A POLÍTICA DA CAPOEIRAGEM. Para Faquinha, nós capoeiras, devemos ser os primeiros a valorizar a nossa história e cultura, senão vamos continuar sempre sendo tratados como agentes culturais sem valor na sociedade brasileira.

EXPLICAÇÃO HISTÓRICA
A presença de capoeiras no "Sete de setembro", longe de significar uma concordância com o discurso militar e midiático sobre a pátria brasileira, corresponde a uma reapropriação do espaço que a eles sempre foi negado. No passado, quando os capoeiras ainda não podiam construir seus próprios intrumentos de marcação ritmica para seus jogos, era o acompanhamento de bandas marciais que garantia a alegria de nossos ancestrais. Em Belém, tal como no Rio e Salvador, esses fatos foram abundantemente denunciados pela elite, através da imprensa de época. Acompanhar as bandas, funcionava como momento de lazer, em alguns casos, ou rito de iniciação dos "caxinguelês" (meninos capoeiras), em outros. De todo modo, os capoeiras sempre estiveram fazendo sua própria festa paralelamente, e não em conjunto, com os festejos militares ou religiosos.
Em Belém, o "Sete de setembro" se caracterizava até o ano passado pelo disfile militar por uma importante avenida paralela à praça da República. Os capoeiras, ao invés de seguirem ou assitirem os desfiles, sempre se voltaram para o espaço interno da própria praça para realizar suas rodas. Este ano o defile militar foi transferido para outro lugar - a Aldeia Cabana -, mas quem disse que os capoeiras acompanharam a mudança? As rodas permaneceram na praça da República e com mais alegria ainda, pois não houve mais disputa por espaço, tal como ocorria nos anos anteriores. O grito do "iê" agora poderia ser acompanhado por um "viva a pátria", mas, não a dos opressores. Agora seria a vez da pátria dos capoeiras.

Comentários

  1. jamais deixaremos nossa tradição acabar o sete de setembro representa para nos um dia de luta e glorias pois no passado não podiamos jogar na praça, a cavalaria sempre terminava com as rodas de maneira truculenta,mais agora é so paz. iê a capoeira, salve, salve a todos os capoeiras praenses que apanharam da policia para poder hoje jogar em paz.
    by Mestre: SILVERIO ARUÃ CAPOEIRA.

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