
Texto extraído do livro: “A capoeira na Bahia: História e Cultura Afro-Brasileira” (Instituto Maria Quitéria – no prelo). Autoria do Contramestre Bel, mais um fruto dos projetos do Malungo.
A origem da Cidade de Feira de Santana remete ao período colonial. Surgiu de um povoado humilde, onde as casas eram cobertas com palhas, piso de terra batida e paredes de barro amassado, conhecido no sertão nordestino como taipa. As casas e ruas eram iluminadas com lamparinas e lampiões a querosene. Localizada a aproximadamente 110km de distância da Cidade do Salvador, no sentido norte da Bahia, e gozando de certo prestígio no tocante à autonomia política e econômica da Capital, Feira de Santana se tornou ao longo do tempo a maior cidade do interior baiano, com uma população de quase 600 mil habitantes e um dos maiores centros de capoeira do Nordeste. Por razões como estas, em 1919 o senhor Ruy Barbosa, ilustre político baiano, a batizou como “Princesa do Sertão”.
A história da Capoeira em Feira de Santana remete a um período recente. A referência mais antiga que se tem notícia foi a realização de luta livre com participação da modalidade capoeiragem, na década de 1930, inclusive registrado no romance Jubiabá de Jorge Amado. Sendo que na passagem dos anos 1960 para 1970 alguns registros sobre a capoeira feirense começaram ser produzidos.
No início dos anos 1970, a capoeira em Feira de Santana tinha como espaço principal de suas exibições as festas de Largo, principalmente a Festa de Santana, considerada uma das mais pomposas festas em louvor a padroeiras na região. No cortejo da festa não faltava a capoeira, organizada principalmente por um grupo folclórico denominado “Angoleiros da Feira”, coordenado pelo Mestre Muritiba. Curiosamente, este grupo em suas apresentações, não exibia somente a capoeira, mas também, o maculelê, o samba de roda, o bumba-meu-boi e o “segura-véia”, principal atração de suas apresentações.
Com as exibições públicas da capoeira, surgiram novos interessados ampliando assim o numero de capoeiras na cidade e por conseqüência surgiam também outros espaços para a sua prática, a exemplo dos quintais e terreiros de residência dos capoeiristas. As escolas (espaços fechados com dias determinados para aprendizagem) de capoeira surgiram apenas na década de 1980, até então a prática da capoeira se realizava predominantemente nos recintos particulares de seus praticantes, nas praças públicas e festas de largo. Neste período, os capoeiras passam a realizar semanalmente rodas de capoeira no Mercado de Artes Popular, localizado no centro comercial da cidade, tornando-se a principal referência da capoeira em Feira de Santana, naquele período.
A relação da capoeira com os festejos populares em Feira de Santana durante toda a década de 1970 e início dos anos 1980, era significativo e pode ser acompanhado pelas notícias de jornais que cobriam as festas, como foi o caso da Festa de Santana de 1972 noticiada pelo jornal Feira Hoje, em sua edição de 08 de janeiro daquele ano:
PREPARE SUA ROUPA NOVA, A FESTA DE SANTANA VAI COMEÇAR
Festas populares.
Muita coisa já consta da programação do Departamento: retretas pelas filarmônicas locais, exibições de capoeira, samba de roda, maculelê, bumba-meu-boi, burrinha e afoché.
A tradicional lavagem da Igreja contará com a presença de mais de 100 baianas, em trajes típicos, carroças e burricos enfeitados, além da bandinha e do trio elétrico.
A Festa de Santana, tinha tanto prestígio junto aos diferentes seguimentos da sociedade que competia, do ponto de vista significativo, apenas com o já extinto carnaval e a micareta que ainda hoje goza de grande pomposidade, sendo considerada uma das maiores festas populares do Brasil. A capoeira usufruía dos espaços de todas estas festas, mas nenhuma delas tão significativa quanto a Festa de Santana ou outras do calendário litúrgico da católica cidade de Feira de Santana, ou porque não dizer da sincrética, tendo em vista o caráter afro-católico da devoção do povo feirense e não ficaria fora dela o grupo folclórico do Mestre Muritiba.
Em 1974, por exemplo, a tradicional festa de Santa Bárbara foi festejada com significativa participação do grupo folclórico do Mestre Muritiba inclusive a apresentação da capoeira em meio às baianas, como se convencionou chamar as mulheres adeptas do candomblé que participavam da festa de Iansã, a rainha dos raios como bem denominou o jornal Feira Hoje em edição de 28 de novembro do citado ano: “Festa para a rainha dos raios – os barraqueiros do Mercado Municipal vão realizar, no dia 4 de dezembro, uma festa em louvor a Santa Bárbara, que no candomblé é conhecida como Iansã”. Não faltou para abrilhantar essa festa a “capoeira, samba de roda, desfile das filhas de santo dirigidas por seus chefes”.
Uma questão que merece destaque na capoeira que se era praticada no espaço das festas de largo, em especial as de cunho religioso como das padroeiras, é a relação da capoeira com o candomblé comum à realidade histórica da capoeira baiana de tempos que se passaram. Em Feira de Santana quem bem representava esse aspecto de trocas culturais do universo simbólico afro-brasileiro era o Mestre Muritiba. Figura inconfundível que dividia o seu cotidiano entre a guarda municipal, era ele um servidor público, e o trabalho da capoeira, confeccionando seus instrumentos e passando para seus discípulos os saberes encantadores dessa prática cultural de matrizes africanas que deles ainda hoje se tem vigência na grande cidade de Feira de Santana, a “Princesa do Sertão”.Hoje em Feira de Santana pode-se contar com diferentes espaços de prática da capoeira desde as atividades dos próprios grupos de capoeira até as formas de trabalho com capoeira na Universidade, a exemplo do currículo acadêmico de Educação Física e das atividades de oficinas culturais do Centro Universitário de Cultura e Arte da Universidade Estadual de Feira de Santana. Vale também destacar as atividades de caráter político-pedagógico desenvolvido através das Organizações Não-Governamentais (ONGs), como é o caso da experiência do “Projeto Capwyla: tempo de capoeirar”, chancelado pelo Instituto Maria Quitéria-IMAQ. Este é o caso, também, dos diferentes grupos de capoeira que já extrapolaram os limites do Estado da Bahia, a exemplo da “Associação de Capoeira Os Dois Antônios”, liderada pelo Mestre Antônio Gago e da “Escola de Capoeira Angoleiros do Sertão”, dirigida pelo Mestre Cláudio Costa e do Malungo Centro de Capoeira Angola, coordenado pelo contramestre Bel, apenas para citar uns poucos da grande comunidade da capoeira e de sua representação social e política na maior cidade do interior baiano.
A origem da Cidade de Feira de Santana remete ao período colonial. Surgiu de um povoado humilde, onde as casas eram cobertas com palhas, piso de terra batida e paredes de barro amassado, conhecido no sertão nordestino como taipa. As casas e ruas eram iluminadas com lamparinas e lampiões a querosene. Localizada a aproximadamente 110km de distância da Cidade do Salvador, no sentido norte da Bahia, e gozando de certo prestígio no tocante à autonomia política e econômica da Capital, Feira de Santana se tornou ao longo do tempo a maior cidade do interior baiano, com uma população de quase 600 mil habitantes e um dos maiores centros de capoeira do Nordeste. Por razões como estas, em 1919 o senhor Ruy Barbosa, ilustre político baiano, a batizou como “Princesa do Sertão”.
A história da Capoeira em Feira de Santana remete a um período recente. A referência mais antiga que se tem notícia foi a realização de luta livre com participação da modalidade capoeiragem, na década de 1930, inclusive registrado no romance Jubiabá de Jorge Amado. Sendo que na passagem dos anos 1960 para 1970 alguns registros sobre a capoeira feirense começaram ser produzidos.
No início dos anos 1970, a capoeira em Feira de Santana tinha como espaço principal de suas exibições as festas de Largo, principalmente a Festa de Santana, considerada uma das mais pomposas festas em louvor a padroeiras na região. No cortejo da festa não faltava a capoeira, organizada principalmente por um grupo folclórico denominado “Angoleiros da Feira”, coordenado pelo Mestre Muritiba. Curiosamente, este grupo em suas apresentações, não exibia somente a capoeira, mas também, o maculelê, o samba de roda, o bumba-meu-boi e o “segura-véia”, principal atração de suas apresentações.
Com as exibições públicas da capoeira, surgiram novos interessados ampliando assim o numero de capoeiras na cidade e por conseqüência surgiam também outros espaços para a sua prática, a exemplo dos quintais e terreiros de residência dos capoeiristas. As escolas (espaços fechados com dias determinados para aprendizagem) de capoeira surgiram apenas na década de 1980, até então a prática da capoeira se realizava predominantemente nos recintos particulares de seus praticantes, nas praças públicas e festas de largo. Neste período, os capoeiras passam a realizar semanalmente rodas de capoeira no Mercado de Artes Popular, localizado no centro comercial da cidade, tornando-se a principal referência da capoeira em Feira de Santana, naquele período.
A relação da capoeira com os festejos populares em Feira de Santana durante toda a década de 1970 e início dos anos 1980, era significativo e pode ser acompanhado pelas notícias de jornais que cobriam as festas, como foi o caso da Festa de Santana de 1972 noticiada pelo jornal Feira Hoje, em sua edição de 08 de janeiro daquele ano:
PREPARE SUA ROUPA NOVA, A FESTA DE SANTANA VAI COMEÇAR
Festas populares.
Muita coisa já consta da programação do Departamento: retretas pelas filarmônicas locais, exibições de capoeira, samba de roda, maculelê, bumba-meu-boi, burrinha e afoché.
A tradicional lavagem da Igreja contará com a presença de mais de 100 baianas, em trajes típicos, carroças e burricos enfeitados, além da bandinha e do trio elétrico.
A Festa de Santana, tinha tanto prestígio junto aos diferentes seguimentos da sociedade que competia, do ponto de vista significativo, apenas com o já extinto carnaval e a micareta que ainda hoje goza de grande pomposidade, sendo considerada uma das maiores festas populares do Brasil. A capoeira usufruía dos espaços de todas estas festas, mas nenhuma delas tão significativa quanto a Festa de Santana ou outras do calendário litúrgico da católica cidade de Feira de Santana, ou porque não dizer da sincrética, tendo em vista o caráter afro-católico da devoção do povo feirense e não ficaria fora dela o grupo folclórico do Mestre Muritiba.
Em 1974, por exemplo, a tradicional festa de Santa Bárbara foi festejada com significativa participação do grupo folclórico do Mestre Muritiba inclusive a apresentação da capoeira em meio às baianas, como se convencionou chamar as mulheres adeptas do candomblé que participavam da festa de Iansã, a rainha dos raios como bem denominou o jornal Feira Hoje em edição de 28 de novembro do citado ano: “Festa para a rainha dos raios – os barraqueiros do Mercado Municipal vão realizar, no dia 4 de dezembro, uma festa em louvor a Santa Bárbara, que no candomblé é conhecida como Iansã”. Não faltou para abrilhantar essa festa a “capoeira, samba de roda, desfile das filhas de santo dirigidas por seus chefes”.
Uma questão que merece destaque na capoeira que se era praticada no espaço das festas de largo, em especial as de cunho religioso como das padroeiras, é a relação da capoeira com o candomblé comum à realidade histórica da capoeira baiana de tempos que se passaram. Em Feira de Santana quem bem representava esse aspecto de trocas culturais do universo simbólico afro-brasileiro era o Mestre Muritiba. Figura inconfundível que dividia o seu cotidiano entre a guarda municipal, era ele um servidor público, e o trabalho da capoeira, confeccionando seus instrumentos e passando para seus discípulos os saberes encantadores dessa prática cultural de matrizes africanas que deles ainda hoje se tem vigência na grande cidade de Feira de Santana, a “Princesa do Sertão”.Hoje em Feira de Santana pode-se contar com diferentes espaços de prática da capoeira desde as atividades dos próprios grupos de capoeira até as formas de trabalho com capoeira na Universidade, a exemplo do currículo acadêmico de Educação Física e das atividades de oficinas culturais do Centro Universitário de Cultura e Arte da Universidade Estadual de Feira de Santana. Vale também destacar as atividades de caráter político-pedagógico desenvolvido através das Organizações Não-Governamentais (ONGs), como é o caso da experiência do “Projeto Capwyla: tempo de capoeirar”, chancelado pelo Instituto Maria Quitéria-IMAQ. Este é o caso, também, dos diferentes grupos de capoeira que já extrapolaram os limites do Estado da Bahia, a exemplo da “Associação de Capoeira Os Dois Antônios”, liderada pelo Mestre Antônio Gago e da “Escola de Capoeira Angoleiros do Sertão”, dirigida pelo Mestre Cláudio Costa e do Malungo Centro de Capoeira Angola, coordenado pelo contramestre Bel, apenas para citar uns poucos da grande comunidade da capoeira e de sua representação social e política na maior cidade do interior baiano.
Bel,parabens pelo seu trabalho,sou feirense,morei na mangabeira,e coneço vç e seu irmao nico!meu nome e ricardo.quando eu for em feira te levo uma camisa do grupo de capoeira de ITUPEVA SP!!!1ABRAÇO...................
ResponderExcluirolá Bel, tdo bem? parabéns pelo trabalho... gostaria de Saber onde posso comprar os seus livros aqui em Feira de Santana. Abraço
ResponderExcluirSALVE SALVE BEL MUITO BOM MESMO TER ESSE BROG GOSTEI MUITO
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