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MALUNGO E A MÚSICA NEGRA NO PARÁ



Palestra discute sobre identidade musical paraense

O Instituto de Artes do Pará (IAP) dá prosseguimento ao projeto Saber da Fonte, que desde abril busca levar ao público pesquisas acadêmicas sobre o universo cultural da Amazônia. Nesta terça-feira (1°), quem participa do projeto é o professor Luiz Augusto Pinheiro Leal (UFPA), com a palestra “É proibido fazer batuques ou sambas: a política de embranquecimento cultural no Pará republicano”. A palestra começa às 18h30, no auditório do IAP (Nazaré, ao lado da Basílica).
Esse trabalho do pesquisador tem como principal objetivo apresentar os resultados iniciais da pesquisa sobre música e sociedade que desenvolveu junto ao Acervo Vicente Salles, em Belém. Seu principal eixo de abordagem está em considerar que a experiência de formação da identidade brasileira também passava pelos caminhos da construção de uma musicalidade tolerável para a sociedade nacional que se buscava estabelecer.
“Enquanto autores clássicos, como Gonzaga - Duque, defendiam a inexistência de arte no Brasil até o início do século XX, as práticas musicais de origem negra ou indígena eram duramente reprimidas no Brasil. Como exemplo, temos a criminalização da capoeira, a repressão ao samba e a proibição do carimbó e do batuque no Pará. Paralelamente ao incremento da uma europeização cultural na Amazônia, ocorria um processo de embranquecimento da cultura musical através da proibição e repressão de práticas culturais que não possuíssem orientação inspirada no modelo europeu”, diz Leal.
No trabalho de 2005 “Capoeira, Boi-Bumbá e Política no Pará Republicano (1889-1906)”, da Universidade Federal da Bahia, o pesquisador já abordava o tema. Nele, ressalta o Ciclo da Borracha e como o enriquecimento da cidade fez com que a repressão às expressões mais populares se acirrasse.
“Ladrão, Umarizal e Jurunas eram bairros periféricos ocupados principalmente pela população pobre de Belém. Seus moradores, em grande maioria negros, incomodavam as elites por causa de suas práticas culturais, que iam de encontro aos valores estéticos defendidos para uma cidade moderna. Nos discursos jornalísticos e policiais, era muito comum se confundirem ‘classes pobres’ e ‘classes perigosas’ (...) Como a reordenação da cidade não se restringiria a seus aspectos físicos, para alcançar o ‘progresso’ e a ‘civilização’, a elite local também precisava ter controle sobre as práticas populares consideradas como perigosas e de má influência para a sociedade. Assim, através das páginas noticiosas do período, uma intensa campanha seria lançada em favor da repressão e da eliminação de práticas consideradas inadequadas a uma grande e desenvolvida urbe moderna (...) Os capoeiras e ‘vagabundos’ seriam os alvos principais desta empreitada”.
SERVIÇO
Projeto Saber da Fonte. Nesta terça-feira, dia 1º, às 18h30, palestra “É proibido fazer batuques ou sambas: a política de embranquecimento cultural no Pará republicano ”, com o Professor Mestre Luiz Augusto Pinheiro Leal, no auditório do IAP (Nazaré, ao lado da Basílica).
Entrada franca.
Informações: Gerência de Artes Literárias e Expressão de Identidade do IAP (91) 4006-2905/2906/2908.

Comentários

  1. Olá, Augusto

    Gostaria de lhe parabenizar pelo Blog, sempre muito interessnte,e dizer que foi muito legal tê-lo conosco aqui na nossa região(llheús\ Itabuna) e aqui na nossa Universidade(UESC).Saudades!!
    Quando puder apareça por aqui, o ANPUH que aconteceu em Salvador foi muito bom pensei que fosse aparecer por lá, estive presente no mini curso de Bel, foi muito bom. O Proximo ANPUH será sediado aqui na UESC.
    Abraços,
    Indira Silva

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  2. Indira,
    mestre Bel foi o representante do Malungo no referido encontro. Na mesma época eu estava em Curitiba participando de um seminário sobre a capoeira no Brasil. Fiquei contente que vocês tenham ido para Salvador. Gostaria muito de ter ido junto. Peço que me mande informações sobre o evento de Ilhéus. Pretendo ir, mas se for antes, aviso. Abraço, Augusto Leal.

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