Depois de muito assédio por parte da grande mídia acerca do filme "Besouro, nasce um herói", do diretor João Daniel Tickomiroff, que será lançado em outubro, finalmente fui convencido a escrever sobre.
Para decepção ou não dos leitores do PORTAL FS, não escreverei sobre o "Besouro" hollywoodiano e sim sobre a bela etnografia áudio-visual produzida pelo capoeirista baiano Pedro Abib, que revela memórias sobre um capoeirista Besouro mais próximo de nossa realidade.
A capoeira no Brasil tem sido objeto de investigação desde o século XIX. Inicialmente foi subjugada à pena dos literatos e folcloristas, a exemplo de Plácido Abreu e Melo Moraes Filho, responsáveis por belas descrições da capoeiragem carioca no século XIX.
Na Bahia, a chamada etnografia africanista deu os primeiros passos para a especulação do universo da capoeira nas ruas da capital, com Manuel Querino e Edison Carneiro, nas primeiras décadas do século XX. A partir dos anos 1950 a linguagem etnográfica começou a ganhar outros rumos no que diz respeito ao registro das práticas de capoeira. Este era o caso dos vídeos-documentários, destaca-se a primazia, para o caso da Bahia, de obras como "Vadiação" (1953) e "O Galo já Cantou" (1962).
Neste período os programas de pós-graduação responsáveis por uma boa parte da produção da literatura histórica e sócio-antropológica sobre a capoeira no Brasil, ainda não tinha se iniciado. Hoje se pode contar com um conjunto considerável de produção nas áreas de história, antropologia, sociologia, Educação Física, etc. Entretanto, ainda continua somando à literatura da capoeira, com certa magnitude e estrelismo, a linguagem áudio-visual com o poder imagética da etnografia vídeo-documentada.
Em termos de exemplo merece destaque "Memórias do Recôncavo: Besouro e outros capoeiras" (2008), do capoeirista, músico e professor do Departamento de Educação da UFBA, Pedro Jungle Abib.
Pedro Abib, é capoeirista, aluno do Mestre João Pequeno de Pastinha. Doutor em Ciências Sociais Aplicadas à Educação pela Universidade Estadual de Campinas-SP, já dirigiu outros vídeos-documentários a exemplo de "Batatinha e o Samba Oculto da Bahia" (2007), premiado com dois "Tatu de Ouro" na 34ª Jornada Internacional de Cinema da Bahia - 2007 (melhor Documentário e melhor Vídeo da Jornada) e Menção Honrosa no Festival de Cinema Atlantidoc – Montevideo – Uruguai – 2007; "Divino Espírito Popular" (2006 ) selecionado para a Jornada Internacional de Cinema da Bahia -2006 e convidado para o Festival de Cinema Africano em Tarifa (Espanha) – 2006; "O Velho Capoeirista: Mestre João Pequeno de Pastinha" (1999) Prêmio Melhor Documentário no Festival de Artes da UNICAMP – 2002.
"Memórias do Recôncavo: Besouro e outros Capoeiras", foi estreado como parte da programação da 35 Jornada Internacional de Cinema da Bahia, em setembro de 2008. A obra trata de Besouro Mangangá, o valente capoeira que se tornou um dos grandes mitos populares da história da capoeira baiana.
O Documentário foi contemplado pelo edital Capoeira Viva – 2006 do Ministério da Cultura do Governo Federal, aborda a experiência dos capoeiras no Recôncavo Baiano, conseguindo alcançar décadas remotas do século XX, período que viveu muitos capoeiras como o lendário Besouro Mangangá.
A partir de depoimentos de antigos capoeiras que ainda moram na região de Santo Amaro da Purificação-BA, assim como a consulta da bibliografia básica sobre capoeira na Bahia, Pedro Abib, conseguiu reconstituir parte importante da memória sobre fatos e personagens envolvidos com esta manifestação da cultura afro-brasileira, trazendo ainda um rico acervo de imagens de arquivo.
Por muito tempo acreditou-se que as histórias de Besouro não passavam de lendas, invenções da ficção popular que ganhou grandes proporções na memória da capoeira. Pesquisas recentes recuperaram importantes documentos que põe por terra a idéia de que Besouro era uma simples lenda.
Os trabalhos de Antônio Liberac Pires, professor da Universidade Federal do Recôncavo Baiano assim como de José Gerardo Vasconcelos, professor da Universidade Federal do Ceará, revelam fontes históricas fidedignas sobre a existência do capoeira Besouro Mangangá, ou Besouro de Santo Amaro, como era também conhecido.
A etnografia vídeo-documentada de Pedro Abib, vem somar com muita competência e lucidez aos trabalhos de outros pesquisadores na busca de revelar os segredos guardados nos esconderijos de nossa história, e no caso em questão revelados por uma memória afro-brasileira que não deve se calar.
Besouro não se calou! "Memórias do Recôncavo" é a prova disto. Espera-se que a obra de Pedro Abib, funcione como estímulo para a produção sobre a experiência de outros personagens da cultura popular baiana e seus segredos que ainda estão guardados nos esconderijos de nossa história.
Este ensaio foi publicado em 10 de setembro de 2009 no Portal FS, disponível em www.fsonline.com.br
Para decepção ou não dos leitores do PORTAL FS, não escreverei sobre o "Besouro" hollywoodiano e sim sobre a bela etnografia áudio-visual produzida pelo capoeirista baiano Pedro Abib, que revela memórias sobre um capoeirista Besouro mais próximo de nossa realidade.
A capoeira no Brasil tem sido objeto de investigação desde o século XIX. Inicialmente foi subjugada à pena dos literatos e folcloristas, a exemplo de Plácido Abreu e Melo Moraes Filho, responsáveis por belas descrições da capoeiragem carioca no século XIX.
Na Bahia, a chamada etnografia africanista deu os primeiros passos para a especulação do universo da capoeira nas ruas da capital, com Manuel Querino e Edison Carneiro, nas primeiras décadas do século XX. A partir dos anos 1950 a linguagem etnográfica começou a ganhar outros rumos no que diz respeito ao registro das práticas de capoeira. Este era o caso dos vídeos-documentários, destaca-se a primazia, para o caso da Bahia, de obras como "Vadiação" (1953) e "O Galo já Cantou" (1962).
Neste período os programas de pós-graduação responsáveis por uma boa parte da produção da literatura histórica e sócio-antropológica sobre a capoeira no Brasil, ainda não tinha se iniciado. Hoje se pode contar com um conjunto considerável de produção nas áreas de história, antropologia, sociologia, Educação Física, etc. Entretanto, ainda continua somando à literatura da capoeira, com certa magnitude e estrelismo, a linguagem áudio-visual com o poder imagética da etnografia vídeo-documentada.
Em termos de exemplo merece destaque "Memórias do Recôncavo: Besouro e outros capoeiras" (2008), do capoeirista, músico e professor do Departamento de Educação da UFBA, Pedro Jungle Abib.
Pedro Abib, é capoeirista, aluno do Mestre João Pequeno de Pastinha. Doutor em Ciências Sociais Aplicadas à Educação pela Universidade Estadual de Campinas-SP, já dirigiu outros vídeos-documentários a exemplo de "Batatinha e o Samba Oculto da Bahia" (2007), premiado com dois "Tatu de Ouro" na 34ª Jornada Internacional de Cinema da Bahia - 2007 (melhor Documentário e melhor Vídeo da Jornada) e Menção Honrosa no Festival de Cinema Atlantidoc – Montevideo – Uruguai – 2007; "Divino Espírito Popular" (2006 ) selecionado para a Jornada Internacional de Cinema da Bahia -2006 e convidado para o Festival de Cinema Africano em Tarifa (Espanha) – 2006; "O Velho Capoeirista: Mestre João Pequeno de Pastinha" (1999) Prêmio Melhor Documentário no Festival de Artes da UNICAMP – 2002.
"Memórias do Recôncavo: Besouro e outros Capoeiras", foi estreado como parte da programação da 35 Jornada Internacional de Cinema da Bahia, em setembro de 2008. A obra trata de Besouro Mangangá, o valente capoeira que se tornou um dos grandes mitos populares da história da capoeira baiana.
O Documentário foi contemplado pelo edital Capoeira Viva – 2006 do Ministério da Cultura do Governo Federal, aborda a experiência dos capoeiras no Recôncavo Baiano, conseguindo alcançar décadas remotas do século XX, período que viveu muitos capoeiras como o lendário Besouro Mangangá.
A partir de depoimentos de antigos capoeiras que ainda moram na região de Santo Amaro da Purificação-BA, assim como a consulta da bibliografia básica sobre capoeira na Bahia, Pedro Abib, conseguiu reconstituir parte importante da memória sobre fatos e personagens envolvidos com esta manifestação da cultura afro-brasileira, trazendo ainda um rico acervo de imagens de arquivo.
Por muito tempo acreditou-se que as histórias de Besouro não passavam de lendas, invenções da ficção popular que ganhou grandes proporções na memória da capoeira. Pesquisas recentes recuperaram importantes documentos que põe por terra a idéia de que Besouro era uma simples lenda.
Os trabalhos de Antônio Liberac Pires, professor da Universidade Federal do Recôncavo Baiano assim como de José Gerardo Vasconcelos, professor da Universidade Federal do Ceará, revelam fontes históricas fidedignas sobre a existência do capoeira Besouro Mangangá, ou Besouro de Santo Amaro, como era também conhecido.
A etnografia vídeo-documentada de Pedro Abib, vem somar com muita competência e lucidez aos trabalhos de outros pesquisadores na busca de revelar os segredos guardados nos esconderijos de nossa história, e no caso em questão revelados por uma memória afro-brasileira que não deve se calar.
Besouro não se calou! "Memórias do Recôncavo" é a prova disto. Espera-se que a obra de Pedro Abib, funcione como estímulo para a produção sobre a experiência de outros personagens da cultura popular baiana e seus segredos que ainda estão guardados nos esconderijos de nossa história.
Este ensaio foi publicado em 10 de setembro de 2009 no Portal FS, disponível em www.fsonline.com.br
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