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A visibilidade da Capoeira na literatura

Veremos o que diz o poema de Cleberton Santos extraído do livro de Gabriel Ferreira. Esboços – ilustrações de textos. Feira de Santana: Edições MAC, 2006, p. 60-61.



A POÉTICA DO GINGADO





















a roda
pernas cortavam a dança alucinada dos capoeiras
tudo era força
agilidade dos olhos que pulavam
braços e cabelos que não respeitavam
a gravidade imposta aos humanos
eram negros fortes negros brancos capoeiras!

os homens
homens de todos os dias
operários trabalhadores construtores
de máquinas, imagens e martelos
com seus punhos unidos
ajoelhados pelo ritual
cruzam olhares vibrando palmas
cores amarradas pela cintura
gestos que desafiam o abismo
e todas as almas sentem o canto de pedra do berimbau

a dança
gingavam de todos os lados
ritmos e cores abraçavam-se no espaço
passos, compassos e um corpo no chão
o capoeira pula sobre todas as cabeças
e recomeça o gingado malandro
de outro canto da capoeira


Cleberton Santos
Poeta e crítico literário, nasceu em 1979, em Propriá-SE. Atua em Feira de Santana-BA. Em 1999, publicou O opúsculo poético - Ópera Urbana, pelas edições MAC, Feira de Santana-BA

Gabriel Ferreira
Artista plástico, nasceu em 1978, em Tanquinho –BA. Atua em Feira de Santana-BA É colaborador do Malungo Centro de Capoeira Angola, já tendo ilustrado, entre outros, o livro No tempo dos valentes: os capoeiras na Cidade da Bahia, de autoria do Contramestre Bel.

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